SENSU TALKS #43 – De afiliadas ao noticiário nacional: 15 anos de telejornalismo
- SENSU
- 21 de ago.
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No episódio #43 do SENSU TALKS, transmitido em 21 de agosto, o jornalista e doutor em Ciências Moura Leite Netto, diretor da SENSU Consultoria de Comunicação, recebeu Marcela Varasquim, repórter de TV, mestra em Jornalismo e colunista de Saúde, para falar sobre sua trajetória “De afiliadas ao noticiário nacional: 15 anos de telejornalismo”.
Marcela iniciou sua carreira ainda na faculdade, estagiando e trabalhando como repórter, apresentadora e editora na TV Universidade Federal do Paraná, passando depois pela TV Bandeirantes Curitiba, RIC TV Record em Joinville, RBS TV Criciúma (afiliada da Globo) e como apresentadora na RIC TV Record de Florianópolis. Desde 2017, atua como repórter da Record TV em São Paulo, integrando a equipe de telejornais nacionais da emissora, e escreve no blog “Papo de Paciente” (R7), onde compartilha sua vivência com o câncer de mama.
A conversa, transmitida ao vivo nos canais da SENSU Consultoria de Comunicação, contou com depoimentos em vídeo de colegas como Tatiana Souza, Rafael Alvarenga, Mitchel Diniz e Leopoldo de Moraes. Durante o episódio, Marcela compartilhou suas experiências com telejornalismo e com o câncer de mama, doença diagnosticada em 2022. O episódio também percorreu momentos desafiadores da carreira, como quando descobriu esse câncer e ficou afastada do trabalho e como se deu o retorno para a TV Record.
Carreira: 15 anos no telejornalismo
O episódio começou falando sobre a carreira de Marcela no jornalismo, os motivos que a levaram a escolher a profissão e como sua vocação surgiu ainda na infância, a partir do gosto pela leitura e pela escrita. “Para falar da carreira no jornalismo, tem que falar antes da faculdade. Era uma vocação, eu amava ler e escrever, era algo que vinha do coração. Eu era muito introspectiva, gostava de escrever, até hoje tenho vários cadernos com anotações minhas. A escrita era uma companhia para mim, não me deixava sozinha, me acolhia. Então eu me encontrava na escrita, por isso sempre achei que faria algo relacionado a isso. Eu falava que ia ser escritora”.
Ainda adolescente, começou a escrever para o jornal da igreja da cidade em que morava. Sua primeira matéria, sobre o novo papa, se tornou capa do jornal. Ela sempre se envolvia em notícias e acontecimentos locais. “Nunca decidi ser jornalista, foi acontecendo. E quando chegou a época do vestibular, passei na Universidade Federal do Paraná, no curso de jornalismo”.
Marcela ingressou no mestrado em Jornalismo em 2015 e lembra que foi um período desafiador devido às demandas do trabalho e da dissertação. Confessa que foi uma época difícil, porque “tinha a demanda do mestrado e a demanda do trabalho. Tinha que fazer pesquisas e estudos para a dissertação. O mestrado desconstruiu muita coisa que eu acreditava, por isso acredito muito no estudo: a gente sempre tem que fazer cursos e se atualizar”. Ela considerou o período enriquecedor: “Foi desafiador, mas grandioso. Saí uma jornalista com mais coerência e melhor preparada.”
Carreira na TV
Marcela iniciou como estagiária na TV da Universidade Federal do Paraná, onde pôde experimentar todos os processos de produção. “Sempre fui intrometida, e isso me ajudou na minha carreira”, disse, destacando a importância do aprendizado com cinegrafistas experientes.
Após formada, continuou na TV, mas queria crescer como profissional, adquirir mais experiência e, por isso, enviou currículos para diversas emissoras do país, sendo contratada por uma afiliada da Record em Joinville. Sobre essa trajetória, comentou: “A partir daquele contrato, muita coisa aconteceu na minha vida, e eu cheguei até São Paulo. Foi uma trajetória cheia de altos e baixos, não foi perfeita, e às vezes dá vontade de desistir, mas fui perseverante”.
Marcela revela que não tem uma pauta preferida, mas o que mais valoriza é a interação com as pessoas: “Toda vez que eu interagia com uma pessoa, eu sabia que estava no lugar certo. Eu gosto muito de estar na rua. Tem personagens e entrevistados com quem mantenho amizade até hoje”.
Tatiana Souza, jornalista e amiga de Marcela, perguntou como trabalhar em emissoras menores contribuiu para sua carreira em São Paulo. Marcela respondeu que só chegou onde está por causa da experiência nas afiliadas: “Acho que só estou aqui em São Paulo por causa das afiliadas. Tudo que eu vivi fora daqui me deu uma bagagem gigantesca. Tem que ter ‘casca’ para viver nesse meio, porque o trabalho precisa ter uma qualidade primorosa.”
Sobre a sensibilidade para ouvir e contar histórias, Marcela diz que é essencial estar atenta ao que as pessoas têm para dizer: “É estar com o coração aberto, ouvir as pessoas e suas histórias. Amo ouvir e quero abraçar essas pessoas”.
Ela também ressaltou a importância de apurar informações: “É necessário checar e rechecar novamente. Se antes gostava de estar nas ruas, hoje busca reportagens mais profundas e com maior densidade”.
Câncer de mama e transformação pessoal
Rafael Alvarenga, repórter cinematográfico, perguntou sobre o documentário que Marcela produziu com ele e quando seria gravado o próximo. Ela disse que tem vontade de fazer outro: “Ao longo da vida, a gente vai se tornando mais autônomo, e hoje estou com algumas ideias. Mas acho que isso tem que esperar um tempo, tudo tem o tempo certo. Aprendi a ter mais paciência, o câncer me trouxe muitas coisas, e uma delas é esperar o tempo certo”.
Marcela recebeu o diagnóstico em 2022, em um momento intenso da carreira. “Nunca teve ninguém na minha família com câncer, eu fui a primeira. Demorei um pouco para ir atrás, foi bem desafiador. Tive que parar a minha carreira em um momento em que estava produzindo muito e tentando crescer, e, de repente, tive que parar tudo. Conversei com a empresa e decidimos pelo meu afastamento e foi a melhor coisa que fiz. A vida exige pausas e, em algum momento, é importante parar. Eu precisava dessa pausa, do meu momento. Foram 8 meses afastada, e se não tivesse parado, eu não seria nem metade da jornalista que sou hoje. Me tornei uma profissional muito melhor, mais sensível e empática”.
Sobre a reflexão que o câncer trouxe, afirmou: “O câncer me trouxe a reflexão do fim da vida, da finitude”. Aos 32 anos, em pleno auge, queria comprar sua casa e realizar muitos projetos, mas percebeu que a vida tinha um fim. Por isso, decidiu contar sua história criando o blog Papo de Paciente, como forma de se expressar: “Eu precisava falar sobre isso, para quem quiser ler e sentir o que eu estava sentindo”.
Mitchel Diniz, jornalista, perguntou como o câncer influenciou sua atuação profissional. Marcela contou que influenciou em tudo: “Mudou a forma como eu me comunico e como me coloco diante das pessoas. Ter vencido o tratamento me deu mais confiança. Acredito no meu potencial, consigo me posicionar mais diante da sociedade, porque sei que minhas ideias têm valor. Todos têm valor, e precisamos reconhecer isso. Isso me tornou uma jornalista melhor, mais focada”.
Ela compartilhou uma dica para jovens jornalistas: analisar textos de outros repórteres que admiram, reescrevê-los e, depois, criar o próprio texto a partir do entendimento. “Fazendo isso, o texto fica melhor”. Marcela também falou sobre a experiência de viver o sofrimento causado pelo câncer: “Isso me fez enxergar melhor o silêncio, ouvir com mais atenção, sentir o que as pessoas querem falar, mas não falam”.
Sobre o propósito de suas reportagens e colunas, afirmou: “Quero deixar espaço e acolhimento, porque foi isso que eu precisei. Não queria que ninguém dissesse: ‘força, você consegue’. Eu não queria isso, eu queria a verdade. Eu não estava bem e queria estar assim, sem fingir. É uma forma de mostrar que as pessoas não estão sozinhas no sofrimento e que há saídas. No momento certo, você vai ficar forte. Hoje uni minha vocação no jornalismo a esse propósito de ajudar pessoas com aquilo que passei. Essa é a realização e o meu propósito: ver que meu trabalho influencia positivamente a vida de alguém”.
Leopoldo de Moraes, jornalista e repórter cinematográfico, perguntou sobre como foi dar força à família enquanto enfrentava o câncer e como contou sobre o diagnóstico. Marcela disse que esperou um tempo: “Não queria contar para a minha família sem ter todas as informações. Falei só para o meu namorado, que estava comigo quando descobri. Naquele momento, só sabia que tinha câncer, não sabia o tipo, nem o tratamento, nem as chances de cura. Não falei para os meus pais para não deixá-los preocupados. Só contei à família depois que sabia de tudo, quase um mês após realizar os exames. Foi a melhor escolha, porque passei o diagnóstico com calma e todos ficaram mais confiantes”.
Como conselho para jovens jornalistas que desejam atuar em telejornais, Marcela disse: “Não tenha ansiedade, as coisas não acontecem no seu tempo. Isso não quer dizer que você é bom ou ruim, mas a vida é assim. Não faça comparações, porque temos mania de nos comparar com os outros, mas o que importa é você. O caminho é sempre para cima. Segura a onda, deixa ser mais leve e, ao mesmo tempo, lute pelo que você quer. Se tiver uma crítica, se coloque no papel de aprendiz. Nem sempre estamos bem e precisamos melhorar, mesmo que doa, porque depois você vai crescer e notar coisas ruins que não tinha notado.








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