SENSU TALKS #42 – Quando o jornalismo, ciência e saúde estão em sua genética!
- SENSU
- há 2 dias
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No episódio #42 do SENSU TALKS, transmitido em 21 de julho, o jornalista e doutor em Ciências Moura Leite Netto, diretor da SENSU Consultoria de Comunicação, recebeu Luiz Paulo Souza, jornalista, biomédico e repórter com ampla experiência em jornalismo de saúde e ciência.
Luiz Paulo é biomédico pela Universidade Federal de Uberlândia, com mestrado em Ciências com ênfase em Genética pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Atuou como repórter na Folha de S.Paulo, Veja e Agência Lupa. Agora, está prestes a iniciar um doutorado em Comunicação pela Universidade do Sul da Flórida, nos Estados Unidos, levando toda a sua experiência na bagagem.
A conversa, transmitida ao vivo nos canais da SENSU Consultoria de Comunicação, contou com depoimentos em vídeo de colegas como Vitor Costa, Camila Morais Melo, Natália Cancian, Alessandro Giannini, Marília Monitchele e Paula Félix. Durante o episódio, Luiz compartilhou suas experiências cobrindo temas científicos e de saúde, abordou os desafios da linguagem técnica e o papel do jornalismo na “tradução” do conhecimento. O episódio também percorreu momentos desafiadores da carreira, desde o início como trainee até a atuação na Veja.
Primeiros passos: entre a ciência e a sala de aula
Antes de iniciar sua carreira no jornalismo, Luiz cursou biomedicina, tendo oportunidade de estagiar na área e realizar pesquisas científicas. Ele conta que o interesse pela comunicação científica surgiu logo no início do curso, por meio de uma disciplina específica. De acordo com ele, “queria passar essas técnicas de comunicação científica de um jeito que fosse acessível para quem estava me ouvindo”.
Ele também foi professor voluntário de Biologia no Projeto Além da Escola, dentro da Unicamp, e relembrou com carinho a experiência vivida durante o mestrado. A proposta do projeto era mostrar como as disciplinas de Biologia, Matemática e Física podem ser aplicadas na vida real. “A ideia desse projeto era justamente tentar fazer uma ponte, trazer conhecimentos que fossem mais práticos, mais úteis no dia a dia. Era um tipo de ensino muito diferente do ensino institucional e os alunos participavam por terem interesse naquele tipo de conhecimento”.
A escrita como ponto de partida
Em vídeo, Vitor Costa, amigo da época da graduação, relembrou que Luiz sempre gostou muito de escrever. Luiz teve então a oportunidade de explicar como juntou comunicação e Biomedicina. Ele disse que se interessava por comunicação científica, mas que tudo aconteceu de forma natural, aproveitando as oportunidades que surgiam. “Veio o momento em que o jornalismo apareceu como uma oportunidade de fazer comunicação científica”, relembrou.
A pandemia como virada de carreira
Foi na época da pandemia que a relação com o jornalismo se fortaleceu. O papel da imprensa na cobertura científica ficou mais evidente e Luiz decidiu se direcionar para essa área. “E em algum momento apareceu a oportunidade de ser trainee na Agência Lupa e eu passei. Foi um bom primeiro passo. Só que eu ainda não sabia exatamente o que era fazer jornalismo. Foi o meu primeiro contato com a comunicação de fato”, ressaltou.
Coragem para mudar de rota
Camila perguntou como foi a decisão de Luiz de deixar toda sua trajetória na comunicação científica para entrar de vez no jornalismo. Luiz respondeu que foi um momento difícil, pois sua carreira já estava bem encaminhada. Logo após sair da Agência Lupa, surgiram as inscrições para o programa de trainee da Folha de S. Paulo. Apesar da incerteza, ele decidiu seguir adiante. “Ninguém sabia me dizer se era uma boa ideia ou não. Foi um momento difícil e eu precisei de muita coragem, mas foi uma decisão feliz. Eu já sabia o que era e já estava mais planejado quando entrei na Folha de S.Paulo”.
A importância da preparação jornalística
Natália Cancian, jornalista de ciência e atualmente assessora de imprensa, relembrou que sempre admirou Luiz e contou que teve a oportunidade de acompanhá-lo em uma entrevista sobre ciência e religião. Ficou impressionada com o preparo, incluindo o estudo sobre a pessoa que seria entrevistada, e quis saber como ele se prepara para coberturas especiais e temas sensíveis.
Luiz compartilhou que sempre começa lendo o que já foi publicado sobre o tema e se pergunta o que faltou ou quais dúvidas surgiram durante a leitura. Em seguida, parte para o aprofundamento técnico e busca especialistas no assunto. “Algo que eu tento sempre fazer quando é possível, é mostrar o método, porque às vezes a gente não fala muito sobre o método, como é que os pesquisadores chegaram naquele resultado, então é algo que eu gosto de trazer”, afirmou.
Carreira na Veja
Já atuando na Veja, Luiz saiu da editoria focada em ciência geral para atuar na editoria de saúde. Ele conta que sempre teve muita curiosidade pela área de saúde, que é, segundo ele, mais dinâmica, e então queria experimentar esse algo novo. “Eu queria experimentar isso. Queria saber como é que era fazer isso na prática, dentro de um grande veículo”.
Alessandro Giannini, editor da Veja, questionou Luiz sobre o dilema atual do jornalismo: muitas notícias partem das redes sociais e moldam o que é noticiado, inclusive na ciência. Luiz reconheceu que esse é um desafio cotidiano. “Se por um lado a gente quer fazer aquele trabalho jornalístico que demora um tempo, que vai ser aprofundado, vai ser investigativo e de qualidade, por outro lado a gente tem a necessidade de conseguir cliques, de conseguir pessoas que estão interessadas naquilo e que vão preferir o nosso veículo. Porém, acredito que é um desafio que vem para fortalecer, porque quando conseguirmos ultrapassar esse desafio, nós estaremos melhores, conseguindo conversar com as pessoas de maneira mais próxima”, disse.
Multidisciplinaridade no jornalismo
Marília Monitchele, em sua pergunta, abordou sobre a transição de carreira e como o Luiz lida com a multidisciplinaridade. Luiz confessou que a mudança foi assustadora, mas acertada. Ele destacou que o jornalismo reúne profissionais com formações diversas e muitos deles são excelentes comunicadores. “Acho que a multidisciplinaridade em ambos os campos tem sido positiva, pois o jornalismo precisa de pessoas que consigam fazer ali coisas diferentes, de maneira rápida e de maneira frenética”, afirmou.
Reportagens marcantes
Ao ser questionado por Moura sobre quais reportagens mais o marcaram, Luiz mencionou três experiências. A primeira foi uma entrevista com um antropólogo camaronês, uma figura que ele admirava. A segunda foi uma matéria de 2024 sobre vacinas contra HIV. “O Diogo Sponchiato me permitiu falar muito de ciência, então eu consegui falar sobre a história do HIV no país, sobre as conquistas que tivemos, tanto no sentido de procurar vacinas quanto no sentido de buscar outras alternativas para melhorar a qualidade de vida das pessoas”. A terceira, mais recente, foi uma reportagem sobre o aumento da incidência de câncer em pessoas com menos de 40/50 anos.
O futuro do jornalismo diante da tecnologia
Paula Félix foi a última a participar e perguntou como Luiz avalia o futuro do jornalismo diante da inteligência artificial e de novas tecnologias, que muitas vezes geram desinformação e tiram o foco da profissão. Luiz respondeu que vê a situação com preocupação. “É triste quando a gente vê o jornalismo tentando reproduzir o que as redes sociais fazem, ao invés do contrário. O caminho para o jornalismo não é fazer o que está sendo feito nas redes sociais. É voltar para o que era feito antes”. Ele ressaltou que é preciso recuperar a credibilidade, fortalecer o vínculo com o público e melhorar o cenário.
Nova fase: ciência, comunicação e democracia
Por fim, Moura perguntou sobre os planos de Luiz com o doutorado nos Estados Unidos e o que pretende estudar. Luiz explicou que o sistema norte-americano prevê dois anos de aulas teóricas e três anos de pesquisa. Ele ainda está definindo seu tema, mas já tem um norte. “Quero pesquisar algo com foco em democracia, ciência, saúde e jornalismo. Essas dificuldades que a gente falou aqui foram as que me motivaram a voltar para a ciência agora, dentro da área de ciência da comunicação”.
Como mensagem final, Luiz deixou um conselho que resume bem sua trajetória:“Para as pessoas continuarem curiosas. A rotina tira isso muito da gente. Tira o tempo da gente se manter curioso. É sempre tempo de a gente continuar aprendendo coisas novas. Não deixar de continuar aprendendo, mesmo que a rotina esteja difícil”
Confira o episódio na íntegra:
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