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SENSU TALKS #39: Heródoto Barbeiro e a travessia do rádio ao "New Rádio"

  • SENSU
  • 30 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Poucos jornalistas brasileiros conseguem reunir em uma mesma trajetória profissional passagens marcantes pelo rádio, televisão,  sala de aula e literatura. Convidado do episódio #39 do SENSU TALKS, o jornalista e historiador Heródoto Barbeiro protagonizou uma conversa que foi mais do que uma entrevista: foi uma viagem no tempo, um exercício de memória e, sobretudo, um olhar crítico e generoso sobre a evolução do jornalismo e da comunicação no Brasil.


A live, apresentada por Moura Leite Netto, diretor da SENSU, aconteceu no dia 30 de outubro de 2024 e teve transmissão simultânea pelo YouTube, Facebook e LinkedIn. Com participações especiais em vídeo de jornalistas como Maiara Bastianello, Meg Guida, Michelle Trombelli, Fernando Vitolo e Thiago Uberreich, o episódio foi recheado de histórias, provocações e conselhos valiosos para comunicadores, estudantes e curiosos da mídia.


"O bom entrevistador escuta com profundidade"


Logo nos primeiros minutos da live, Moura Leite fez referência ao estilo marcante de Antônio Abujamra, que já havia apresentado Heródoto no programa Provocações. O jornalista respondeu com simplicidade e convicção:


“Entrevistar é uma arte que exige mais silêncio do que fala. Quem escuta de verdade consegue conduzir uma boa conversa. Eu me esforço para ouvir mais do que falar”. 


A afirmação condensa uma filosofia que se reflete em toda sua carreira: a escuta como instrumento de compreensão e de construção da narrativa jornalística.


 A formação nas ondas do rádio e nos livros de Lobato


Heródoto também compartilhou com o público memórias da infância e adolescência, revelando como sua formação jornalística começou muito antes da faculdade. Entre suas primeiras referências, destacou os livros de Monteiro Lobato e as transmissões radiofônicas:


“Monteiro Lobato me fez entender o poder da palavra escrita. Já o rádio, especialmente o de notícias e o esportivo, despertou minha paixão pela fala, pela cadência da narração, pela instantaneidade”.


Esses elementos ajudaram a moldar o profissional que transitaria com fluidez entre os diversos formatos da comunicação brasileira.


Do rádio com imagem ao "New Rádio": a revolução no consumo de conteúdo


Em pergunta enviada por vídeo, a jornalista Maiara Bastianello abordou uma prática comum de Heródoto: ouvir rádio enquanto assiste a conteúdos no YouTube. Para ele, isso simboliza uma nova era da comunicação:


“O ‘New Rádio’ não está mais preso ao dial. Ele se funde com o audiovisual, com a interatividade e com a mobilidade. Você escuta no carro, na academia, no celular. E mais: você pode ver, comentar, compartilhar. É rádio com múltiplas camadas.”


Heródoto destaca que essa transformação exige dos jornalistas uma nova postura e dos veículos, uma reinvenção constante.


“Show de Ensino”: uma experiência pioneira em educação na TV


Um dos momentos históricos da conversa foi quando Heródoto relembrou sua participação no programa Show de Ensino, exibido pela TV Gazeta nos anos 1970. A proposta era levar conteúdos pedagógicos à televisão aberta: 


“Foi uma tentativa ousada e muito importante de democratizar o ensino. Era o embrião do que depois se consolidou como o Telecurso 2000. Eu participava como apresentador e roteirista. A TV como ferramenta educativa me encanta até hoje.”


Kombi, meditação e simplicidade: o monastério sobre rodas


A jornalista Meg Guida fez uma pergunta bem-humorada sobre a famosa Kombi de Heródoto, conhecida por ser seu local de meditação. Ele respondeu com afeto e leveza:


“Minha Kombi é meu refúgio. É onde me recolho, medito, escrevo. Ela simboliza minha busca por uma vida mais simples, com menos pressa e mais consciência.”


Mais do que um carro, a Kombi representa uma filosofia pessoal que valoriza o tempo, o silêncio e o equilíbrio interior.


CBN: os bastidores da primeira rádio all news do Brasil


Heródoto esteve presente na criação da CBN, em 1991, a primeira rádio brasileira com programação jornalística 24h por dia. Relembrando os bastidores, ele contou:


“A gente não sabia se daria certo. Ninguém acreditava que o público aceitaria uma rádio sem música. Mas fomos teimosos. E a ideia vingou.”


Sobre os momentos mais marcantes, citou a cobertura de grandes eleições e desastres naturais, quando o rádio voltou a ocupar papel central na vida dos ouvintes.


Livros que marcam gerações


Em sua carreira como autor, Heródoto soma mais de 30 livros publicados. A jornalista Michelle Trombelli quis saber qual deles teve maior impacto pessoal. Ele destacou:


O livro “‘100 anos de Rádio no Brasil’” foi um trabalho de paixão e de reconhecimento. Quis contar a história de um veículo que me formou e que transformou o Brasil.”


Além disso, mencionou o “Manual do New Rádio”, que apresenta aos jovens comunicadores os caminhos para entender e dominar os novos formatos da comunicação sonora.


Roda Viva: das entrevistas desafiadoras às transformações editoriais


Entre 1994 e 1995, Heródoto apresentou o Roda Viva e retornou ao comando entre 2009 e 2010. Moura Leite perguntou sobre os desafios, e Heródoto relembrou a entrevista com Orestes Quércia como uma das mais difíceis:


“Ele dominava a retórica e era muito experiente. Mas o formato em roda e as perguntas afiadas criavam tensão e revelavam muito mais do que a superfície”.


Na segunda passagem, destacou a agilidade do programa e a entrada definitiva das redes sociais no debate.


Jornalismo, Kombi e Corinthians: escola de resiliência


Em tom descontraído, o jornalista Fernando Vitolo questionou o que mais ensinou Heródoto sobre resiliência e estratégia: o jornalismo, a Kombi ou o Corinthians. A resposta foi diplomática e reflexiva:


“O Corinthians me ensinou a sofrer, a Kombi a respirar e o jornalismo a entender o mundo. Cada um com sua lição. Mas o jornalismo é o que me permite refletir sobre todos os outros”.


Odorico Paraguaçu segue atual?


A pergunta de Thiago Uberreich – sobre o motivo para a política brasileira ainda parecer estar nos tempos de Odorico Paraguaçu arrancou risos, mas gerou uma resposta crítica:

“Porque muitos políticos ainda vivem de frase de efeito e palanque. Falta projeto e sobra teatralidade. E o público, muitas vezes, aceita isso como entretenimento”.


Dica para os novos jornalistas: leiam, perguntem e duvidem


Encerrando a conversa, Moura pediu um conselho para os jovens comunicadores. Heródoto foi direto: “Curiosidade é o ponto de partida. Mas sem ética e sem leitura, o jornalista não se sustenta. Leiam muito. Perguntem sempre. E duvidem com responsabilidade”.


Episódio completo 


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