O jornalista André Biernath, da BBC News Brasil, coleciona reportagens sobre saúde e ciência publicadas em Português, Inglês, Espanhol, Francês, Chinês e outras línguas. Essa é uma estratégia da BBC para circular o conhecimento em várias regiões do mundo e permitir acesso às informações atualizadas sem o empecilho da barreira linguística. Convidado do episódio 30 do SENSU TALKS, Biernath fala sobre sua trajetória profissional, que inclui quase uma na Editora Abril. Em pauta neste papo: “Um jornalista de saúde e ciência em Londres”. A apresentação é do jornalista Moura Leite Netto, diretor da SENSU.
Biernath chegou à capital inglesa para trabalhar em fevereiro de 2022. A proposta inicial consistia em um período de experiência, para ficar durante um ano. Porém, a adaptação à redação, a qualidade das reportagens e o convívio com outros jornalistas mostraram que o trabalho precisava ser estendido, assim, veio o convite para que sua estadia na redação em Londres se tornasse definitiva.
O jornalista comenta o ritmo de produção de um veículo que necessita de novas reportagens a cada dia, às vezes, a cada hora: “A BBC é um serviço mundial. Os textos são publicados em 42 idiomas, espalhados pela África, Ásia, Europa e América. Ao longo da pandemia, tive várias reportagens que saíram em outras línguas. Até mando para as fontes verem o alcance mundial”, relata.
Um dos desafios de seu trabalho é produzir pautas sobre o Brasil, levando em conta que pessoas de outras nacionalidades também precisam se interessar. O repórter desenvolveu um olhar duplo: falar sobre problemas que acontecem no Brasil, mas trazendo histórias, especialistas e experiências nossas que podem interessar e servir de exemplo para o mundo.
Um exemplo de reportagem que traduz esse objetivo aborda os impactos psicológicos do lockdown. “Lembro de uma reportagem sobre um homem que estava em lockdown total há mais de dois anos, no Rio de Janeiro. Ele desenvolveu uma fobia causada pela pandemia. Apesar de ser uma história local, a reportagem saiu em vários sites devido ao apelo universal”, relembra Biernath.
Atualmente, com a pandemia de Covid-19 tendo números menos alarmantes, o jornalismo de saúde precisa refletir sobre novas possibilidades e necessita fazer autocrítica, conforme aponta o profissional. “Passada essa fase da pandemia, em que todas as manchetes eram de saúde, acho importante entender como nosso trabalho pode ser além desse momento, como podemos continuar a salvar vidas, melhorar a vida das pessoas, estimular a discussão sobre o sistema de saúde mas justo, igualitário e acessível”, comenta.
Para ele, também é necessário olhar para o que já fizemos e melhorar as pautas futuras. Na avaliação de Biernath, a imprensa brasileira cometeu alguns erros, mas que foram corrigidos ao longo da pandemia. No Jornalismo, costuma-se dizer que há sempre “dois lados” sobre qualquer assunto. Entretanto, quando o assunto é ciência e saúde, a preferência de escuta deve ser dada aos especialistas e aos estudos com bons aspectos científicos.
Por fim, o jornalista da BBC News Brasil dá duas dicas para jornalistas que desejam seguir carreira no Jornalismo Científico. A primeira é investir nas horas de estudos: “Ao escrever sobre um tema, entenda o básico da pauta antes de entrar na novidade complexa. Assim, as entrevistas ficam melhores, seu texto ou conteúdo fica mais assertivo e você estará mais preparado para futuras matérias do mesmo tema”, aconselha.
O segundo conselho é estar em contato nos lugares onde a ciência é produzida e discutida, como congressos científicos e museus. “Assistir às aulas e palestras gera a oportunidade de aprender técnicas que serão úteis no futuro. Você irá conhecer cientistas que são referência nas áreas e que podem ser fontes em reportagens futuras. Tenho várias reportagens publicadas a partir de eventos”, finaliza o jornalista.
Confira o episódio:
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