SENSU no Direto ao Ponto da Jovem Pan News sobre HIV
- SENSU
- 2 de dez.
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No episódio do Direto ao Ponto exibido em 1º de dezembro de 2025, Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, a Jovem Pan News recebeu o infectologista e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo Ricardo Diaz. Com comando do apresentador Evandro Cini, o especialista foi entrevistado por Moura Leite Netto, jornalista e diretor da SENSU Comunicação, pelas também jornalistas Malu Echeverria e Camila Yunes e pela advogada Monica Rosenberg. Ao longo do programa, Moura concentrou suas perguntas em prevenção, redução do diagnóstico tardio e pesquisa clínica voltada à remissão sustentada do HIV.

Prevenção de HIV por PrEP. E as demais ISTs?
Em sua primeira intervenção, Moura perguntou se, no âmbito da prevenção, em que medida o fato de o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) reduzir o risco de infecção por HIV pode levar algumas pessoas a negligenciar outras formas de prevenção e abrir caminho para outras infecções sexualmente transmissíveis. Ricardo Diaz respondeu que isso é um dado real e que existe associação entre o uso de medicamentos para prevenir o HIV e o aumento de outras ISTs como sífilis, gonorreia e clamídia, mas que não existe nada mais importante do que o que foi conquistado na prevenção do HIV com esses medicamentos. Segundo ele, as outras infecções são tratáveis, diagnosticáveis e imunizáveis e não se pode permitir que o preconceito reduza o acesso à PrEP, que foi o único artifício capaz de diminuir a incidência de novos casos de HIV no mundo.
Medicamentos injetáveis e prevenção de longa duração
Em nova intervenção, Moura perguntou sobre estudos recentes com medicamentos injetáveis de longa duração utilizados a cada seis meses, comparado com o medicamento oral diário e se esse seria um novo caminho da prevenção. Ricardo Diaz respondeu afirmando que o avanço é fenomenal e explicou que a PrEP evoluiu do uso diário de comprimidos para esquemas de curta duração depois para medicamentos de longa ação com nanotecnologia, incluindo injeções intramusculares a cada dois meses e, mais recentemente, para aplicações subcutâneas semestrais. Ele destacou que em estudos realizados na África nenhuma mulher que recebeu o medicamento subcutâneo adquiriu HIV, ressaltando a relevância desse instrumento especialmente para reduzir a transmissão do vírus de mãe para filho.
Diagnóstico tardio e impacto no tratamento
Ao abordar o diagnóstico tardio, Moura perguntou como o fato de muitas pessoas viverem com HIV sem saber interfere no tratamento, aumentando a carga viral e a resistência aos medicamentos e como o cenário público atua nesse sentido. Ricardo Diaz respondeu que o dano causado pelo HIV não tratado é cumulativo, pois gera inflamação crônica, provoca cicatrizes internas e aumenta o reservatório viral, tornando o controle mais difícil. Ele afirmou que quanto mais tempo a pessoa permanece sem tratamento mais distante ela fica da cura e que ainda há mortes por AIDS devido a diagnósticos tardios e isso não deveria acontecer. Segundo ele, o objetivo central é diagnosticar as pessoas o mais próximo possível do momento em que se infectam, incluí-las rapidamente no tratamento, cortar a cadeia de transmissão e reduzir danos ao próprio organismo.
O coquetel tradicional e o super coquetel da pesquisa
Moura questionou quais são as principais diferenças entre os esquemas terapêuticos disponíveis no SUS e o coquetel mais fortalecido desenvolvido no âmbito da pesquisa liderada por Ricardo Diaz. O pesquisador explicou que desde 2012 o grupo percebeu que apesar do controle do vírus as pessoas seguiam com inflamação persistente porque havia uma quantidade de HIV latente dormindo no organismo. Esse reservatório viral seria a principal barreira tanto para reduzir danos inflamatórios quanto para alcançar a cura. A estratégia desenvolvida envolve intensificar o tratamento reduzir o número de células infectadas acordar os vírus latentes eliminá-los e estimular a resposta imunológica por meio de uma vacina terapêutica que na prática é uma terapia celular personalizada.
Grupo controle, segurança e acompanhamento contínuo
Em outra pergunta, Moura pediu orientações sobre como o grupo de pesquisa acompanha pessoas que participam de estudos clínicos, inclusive aquelas que integram o grupo controle, sem comprometer a segurança. Ricardo Diaz explicou que os participantes do grupo controle permanecem sob tratamento convencional e que qualquer interrupção do uso de medicamentos ocorre apenas com monitoramento muito rigoroso. Ele afirmou que o estudo exige acompanhamento frequente, observação contínua e responsabilidade, pois interromper o tratamento sem vigilância adequada seria inaceitável e produzir conhecimento não pode significar causar danos às pessoas.
Da fase 2 para estudos ampliados
Moura também perguntou se após a fase 2 do estudo já seria possível extrapolar os resultados para um número maior de pessoas. Ricardo Diaz respondeu que o caminho científico exige o cumprimento de todas as fases com avaliação rigorosa de segurança e eficácia. Ele afirmou que mesmo resultados promissores precisam ser reproduzidos em grupos maiores ajustados ao longo do tempo e acompanhados de forma permanente, pois pessoas que alcançam remissão sustentada precisam ser observadas continuamente.
Sinais de alerta da AIDS e consequências do atraso no diagnóstico
Em sua última participação, Moura perguntou sobre de que forma o avanço silencioso da infecção interfere na saúde da pessoa. O que ocorre quando o HIV não é diagnosticado precocemente e quais são os sinais de alerta associados à evolução para a AIDS. Ricardo Diaz respondeu que o HIV causa um dano cumulativo no organismo ao longo do tempo. Quando não tratado, produz inflamação crônica e compromete progressivamente os órgãos responsáveis pela defesa do corpo. Ele explicou que a consequência desse processo inflamatório contínuo é a perda das células de defesa chamadas CD4 e que quando esses níveis atingem valores muito baixos a pessoa pode desenvolver AIDS. Segundo ele, ainda existem pessoas que morrem de AIDS justamente porque recebem o diagnóstico muito tardiamente, quando já não é possível reverter completamente os danos no organismo, algo que não deveria acontecer diante das ferramentas atuais de testagem e tratamento disponíveis no país.
A entrevista completa está disponível no canal da Jovem Pan News no YouTube.







