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Das ciências sociais ao jornalismo de saúde: compromisso de Mariana Varella com a informação de qualidade

  • SENSU
  • 1 de jul.
  • 7 min de leitura

Filha do médico Drauzio Varella, Mariana Varella construiu seu próprio caminho na comunicação em saúde, unindo formação acadêmica em Ciências Sociais à prática jornalística iniciada ainda na faculdade. Hoje, ela é editora-chefe do Portal Drauzio, colunista do UOL e uma das vozes mais relevantes em informação qualificada sobre saúde no Brasil.

Foto da jornalista Mariana Varella,  editora-chefe do Portal Drauzio e colunista do UOL
A jornalista Mariana Varella,  editora-chefe do Portal Drauzio e colunista do UOL (Imagem: Acervo Pessoal)

Nesta entrevista exclusiva para a SENSU Consultoria de Comunicação, Mariana fala sobre sua trajetória profissional, os desafios de pautar temas técnicos com responsabilidade e o papel, cada vez mais essencial, do jornalismo profissional diante da grande quantidade de desinformação que circula, especialmente nas redes sociais. Com uma fala acessível e comprometida, ela mostra que ser comunicador em saúde é muito mais do que informar. É conhecer e ter autonomia para falar sobre o assunto.


SENSU - Como foi crescer como filha do Drauzio Varella?

Mariana Varella - Quando eu era criança meu pai não era uma figura pública ainda. Ele foi se tornar mais conhecido no país quando eu já estava no começo da vida adulta. Então, quando criança, ele era um pai extremamente dedicado, muito presente na minha vida e da minha irmã. Era um médico muito dedicado também ao trabalho e comprometido com os pacientes. Então, ele equilibrava essas duas partes da vida. Ele passou muito pra gente essa importância de você fazer tudo aquilo que você se compromete a fazer com comprometimento e seriedade. Sempre valorizou muito estudar, saber o que você está fazendo e não fazer de qualquer jeito.


Embora seja médico, Drauzio é também uma referência em comunicação de saúde. Ser filha dele, de alguma forma, fez você atuar no jornalismo? 

Acredito que sim. Ele sempre entendeu que tinha uma responsabilidade, como médico, de passar informação em saúde em um país muito carente desse tipo de informação. Ele sempre valorizou isso e quis passar informação para o maior número possível de pessoas. Eu acho que eu peguei isso um pouco dele, acompanhando o trabalho dele, vendo o dia a dia dele, com essa intenção de passar a informação para um maior número possível de pessoas. Eu acho que eu me interessei pela área da comunicação meio que por aí mesmo. E a comunicação em saúde foi um caminho meio natural também, porque eu venho de uma família de médicos. A área da saúde sempre me interessou muito.


Como se deu o começo de sua atuação como jornalista e como essa bagagem reflete hoje em seu papel como editora-chefe? 

Eu me formei em Ciências Sociais, não cursei jornalismo, mas eu já quis fazer jornalismo logo de cara, então, ainda na faculdade, eu comecei na Rádio Trianon, que foi uma baita escola. Rádio é uma escola maravilhosa para o jornalista. E depois, com o passar dos anos, eu senti a necessidade de me especializar em alguma área. E a saúde foi um caminho natural. Eu venho de uma família de médicos. Não só o meu pai é médico, mas minha mãe, meus irmãos, então eu venho de uma família de médicos que sempre se interessou em falar sobre saúde. Como eu tinha cursado Ciências Sociais, a saúde pública foi um caminho que me pareceu mais interessante, porque une a saúde com os aspectos sociais e políticos. Então, eu resolvi fazer mestrado na Faculdade de Saúde Pública da USP e agora estou começando a cursar doutorado. E eu acho que, com isso, eu acabei me especializando na área de saúde.


Como as pautas são definidas e quais são os seus maiores desafios ao tratar de temas de saúde?

Nós definimos as pautas mais ou menos como eu acredito que a maioria dos veículos de comunicação define. A gente tem as pautas quentes, que a gente chama de hard news. Então, quando tem alguma medida lançada pelo Ministério da Saúde ou alguma medida que vai afetar politicamente a saúde, a gente dá. Notas quentes, campanhas de vacinação, enfim, nesse sentido. Também tem aquelas pautas mais trabalhadas, que a gente faz com mais tempo, que são mais frias, que aí a gente define meio que vendo o que as pessoas estão falando na internet. Se alguém falou sobre alguma doença, a gente não costuma dar casos pessoais, por exemplo “Fulano disse que está com câncer de rim”, mas a gente acompanha quais são os temas que vêm sendo mais debatidos e tenta abordá-los. Além disso, eu tenho uma equipe que já trabalha comigo há algum tempo, que é especializada em saúde e  já sabe o que a gente ainda não abordou e traz sugestões de pautas que a gente também leva em conta. O Portal Drauzio é construído por muitas mãos. Todo mundo sugere pautas.


O que despertou o desejo em ser cientista social e fazer mestrado na área?

Eu sempre me interessei muito por política, por sociologia e sempre gostei muito de ler e escrever. E as Ciências Sociais exigem muita dedicação acadêmica. Tem uma carga de leitura muito grande. Mas logo eu ingressei no jornalismo. Eu achei uma forma de trazer o conhecimento que eu aprendi na academia, na faculdade, para a área de comunicação, para tornar um pouco desse conhecimento mais acessível. Depois que eu comecei a trabalhar com jornalismo, eu senti essa necessidade de me especializar e a área da saúde foi um caminho natural. E eu senti que tinha espaço para a gente tratar a saúde para além das doenças e sintomas. Pensar um pouco na saúde pública, incluindo como ela é influenciada pela política e pelos aspectos culturais e socioeconômicos. Então, foi aí que eu senti essa necessidade de estudar também na faculdade de saúde pública. Fiz mestrado na Faculdade de Saúde Pública da USP e vou começar a cursar o doutorado na mesma faculdade, em Saúde Global.


Como você aplica o conhecimento que adquiriu como cientista social no dia a dia como jornalista?

Eu acho que as ciências sociais mudam o nosso olhar. Eu sinto que eu aplico a área de ciências sociais de alguma forma em quase todas as esferas da minha vida. Você passa a olhar as coisas levando em consideração os aspectos socioeconômicos, com uma visão mais global. Então, nesse sentido, pensar a saúde por essa perspectiva mais social é algo que eu aplico no meu dia a dia como jornalista. É claro que, quando você pensa em saúde, você pensa diretamente em tratamentos, doenças e como identificar sintomas. Esse é um aspecto importante da saúde para a prevenção e identificação de doenças. Mas a saúde é muito mais que isso. Eu acho que as ciências sociais foram importantes para abrir meus olhos para esses aspectos socioeconômicos, culturais e políticos também. A saúde pública é totalmente influenciada pela política.


Você tem grande atuação nas redes sociais. Além de editora-chefe do Portal Drauzio você faz os vídeos do Assunto da Semana e ainda atua como colunista do UOL. Como você consegue conciliar as funções?

Se você quer falar com públicos diferentes e atingir o maior número de pessoas, você tem que atuar em várias frentes. Não dá para você ficar presa em só um veículo de comunicação. Essa foi a ideia que a gente teve para fazer o Portal Drauzio virar o que virou e que ainda está virando. Ainda estamos em movimento, como um portal que atua em várias áreas. Tem a parte de site, digital, vídeos no YouTube, redes sociais, enfim, são várias as frentes que a gente atua para levar a comunicação em saúde. Eu acho que esse é o papel do comunicador hoje que quer atingir o maior número de pessoas e também com uma diversidade de idade, de níveis socioeconômicos, enfim, um público mais diverso. A gente tenta fazer isso sempre com muita responsabilidade. Eu trato todo o meu trabalho, não importa onde ele seja veiculado, com a mesma responsabilidade.


Como você define o que vai virar pauta para o UOL?

Eu sempre tive muita liberdade para atuar no VivaBem UOL. Sempre fui tratada com muita independência. Nunca me impuseram nada ou pediram nada em especial. Então, eu vejo algum tema quente, que foi falado na semana e aí eu tento abordar. Ou então eu faço pesquisa nos grandes veículos e nos grandes periódicos de saúde, para ver se tem algum estudo novo, alguma novidade sendo lançada em algum país e o que está sendo falado no mundo todo. Enfim, eu tento fazer a minha pesquisa para ver o que pode ser interessante para o UOL.


Em um cenário de tanta desinformação, como você enxerga o papel do jornalismo de saúde hoje?

Inclusive esse é um dos temas das minhas pesquisas acadêmicas: tentar relacionar jornalismo com desinformação em saúde. Estamos vivendo esse momento de tanta desinformação e ninguém sabe exatamente como lidar com esse problema. É um problema novo, quer dizer, a desinformação em si não é um problema novo, sempre houve fake news e desinformação, mas a forma como ela tem se espalhado hoje é relativamente nova. Então, eu acho que ninguém tem as respostas ainda. O que a gente tenta é contrapor um pouco a desinformação em saúde com informação qualificada. Sempre deve haver muito rigor na apuração e na consulta de fontes,, com dupla ou tripla checagem, para que a informação seja qualificada. Eu acho que o jornalismo tem um papel importante em saúde e, com a pandemia, se tornou mais relevante. Eu lembro que, quando começou a pandemia, poucas redações investiam na área de saúde Os veículos viram como isso era importante e está melhorando. Hoje, já tem muito mais investimento na área. Há mais mais cursos e muito mais gente interessada. Fico feliz com isso, pois quanto mais colegas qualificados, melhor. Não é uma área fácil. É uma área que demora mais para se formar. Requer certo conhecimento técnico, pois é uma área difícil, mas essencial neste mundo com tanta desinformação e com tanta ignorância.


Quais conselhos você daria para jornalistas que estão começando agora e querem atuar com temas relacionados à saúde e ciência?

Estude, esse é o principal conselho. Estude, estude e estude, porque essas são áreas que requerem um certo conhecimento técnico. Nós seremos sempre confrontados por médicos e cientistas que discordam do que a gente colocou. Então, você tem que estar bem preparado para saber rebater, responder e dizer de onde saiu aquilo. É importante aprender a ler artigos científicos e se qualificar. É uma área que exige muita qualificação, estudo e dedicação. Geralmente, quem faz jornalismo é de humanas, não da saúde ou das ciências, então há esse buraco na nossa formação e a gente tem que ir atrás mesmo da informação, para saber como a ciência opera, como são as pesquisas científicas, saber ler um estudo e se ele é relevante ou não, assim como conhecer os veículos, os periódicos que publicam esses estudos, quais são bons e quais não são, quais têm relevância, para saber se colocar. Você vai conversar com médicos, cientistas e é necessário ter um nível básico para participar dessas conversas. Então, meu principal conselho é estudar e ir atrás da informação, ser dedicado e conhecer como a saúde e a ciência operam. Claro que a gente não vai se formar médico ou cientista, não é essa a proposta, mas temos que ter conhecimento técnico e, com isso, saber “traduzir”, para a população geral, aquilo que os técnicos estão dizendo. Temos que conhecer sobre o tema.


Texto de Melina Ferrazzo

Edição de Moura Leite Netto


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