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Diretor da SENSU, Moura Leite Netto, participa da bancada do Roda Viva que recebeu reitor da USP

No dia 28 de agosto de 2023, o jornalista Moura Leite Netto, diretor da SENSU Consultoria de Comunicação, participou como entrevistador convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, que recebeu o atual reitor da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Gilberto Carlotti Junior.


Neste ano, a USP entrou para a lista das 100 melhores universidades do mundo pela QS World University Ranking. É a primeira vez que uma instituição brasileira consegue estar nessa posição. Por outro lado, 11 disciplinas previstas na grade do curso de Artes Visuais foram canceladas no segundo semestre de 2023, devido à falta de professores. O Roda Viva, entre outros assuntos, debateu sobre os desafios para manter o ensino público de qualidade.


Com apresentação da jornalista Vera Magalhães, participaram ainda da bancada de entrevistadores, Fernando Andrade, jornalista da Rádio CBN; Helen Braun, jornalista; Isabela Palhares, repórter da Folha de São Paulo; e Victor Vieira, editor de Metrópole do jornal O Estado de São Paulo.


Confira a participação do diretor da SENSU Consultoria de Comunicação no programa:


Primeiro bloco


Moura Leite Netto: Boa noite professor, o cenário trazido em relação às disciplinas de Letras tem afetado também os cursos de Artes Visuais, com 11 disciplinas que devem ser fechadas. Dentro deste contexto da área de Humanas, queria entender se esse contexto visto em sala de aula pode ser um reflexo do fato de que essas essas áreas de Humanas acabam produzindo mais pesquisas qualitativas e não quantitativas, como Medicina, Ciências Biológicas e, por conta disso, recebe um olhar menos atento por parte da universidade?


Gilberto Carlotti Júnior: Durante vários anos, o nosso critério de contratação docente - e eu vou te dar alguns exemplos - era muito focado em produção científica em grandes projetos em alunos que tinham bolsa JP (Jovem Pesquisador). Alunos não, pesquisadores que tinham bolsa FAPERJ. Então, estava realmente muito focado em pesquisa. O que nós fizemos na nossa gestão é tratar todos como iguais. Então, você vai ter a mesma reposição que tem a Hard Science, as biológicas e as humanidades. Muitas das humanidades tiveram tanta igualdade no tratamento como agora. Por exemplo, neste edital que te falei de 63 vagas, as humanidades tiveram também a chance de pedir vagas e ganharam essas vagas. A reposição não foi feita baseada na produção científica. Essas 580 vagas que nós propusemos foram baseadas nas perdas que as humanidades tiveram e não na produção ou algum fator especial.


Então, por que que eu não consigo chegar a 100%? Porque tem professores que eu preciso contratar, por exemplo os professores de libras. Em 2014, eu não tinha professores de libras. Agora eu preciso. Então, esse pequeno 1% é para acertar essas áreas que nós não tínhamos em 2014 e que agora somos obrigados a ter, mas não é uma perda.


Sempre que nós utilizamos isso, olhamos o nosso orçamento: quanto tem disponibilidade financeira para poder fazer contratação? Às vezes, faço esses comentários no Conselho Universitário e as pessoas falam que eu só penso em dinheiro, que tenho que considerar que a universidade é um banco. Não, a universidade não é um banco. Nós temos que fazer investimento, temos que contratar e valorizar as pessoas, mas temos que ter responsabilidade também. Então, nós já fizemos nessa gestão de um ano e meio uma reposição no primeiro ano de 20% de reajuste salarial. Neste ano, 10%, alguma coisa. Então, soma 33% de reajuste salarial.


Então, temos que fazer um balanço do seu orçamento para pagar bem os nossos professores que estão na universidade. E o número de pessoas a serem contratadas não é uma uma solução, não basta contratar 90, 100 professores e não pagar um salário digno aos nossos professores. Eu ainda tenho que pagar o décimo terceiro no final do ano.


Então, esses são problemas que nós já tivemos no passado e não podemos repetir isso. Nós ficamos oito ou nove anos sem fazer contratação porque lá no passado fizemos um gasto excessivo e depois precisamos ficar muito tempo sem contratar. Então, o que eu estou me propondo nessa gestão a ter equilíbrio, vou chegar no final da gestão e poder ter uma universidade com estabilidade. Até internamente as unidades podem fazer esse controle dos nomes dos professores dependendo de cada área do conhecimento.



Segundo bloco


Moura Leite Netto: Este ano os valores das bolsas de pós-graduação tiveram um salto de 40%: as bolsas de mestrado foram para R$ 2.100, doutorado para R$ 3.100 e pós-doutorado R$5.200. É importante esse aumento, mas independentemente da questão do valor da remuneração da bolsa, outros aspectos também são importantes para o pós-graduando se sentir bem no ambiente acadêmico. A USP reconhece que há outros fatores que precisam ser pensados para que esse aluno pós-graduando se sinta em um ambiente mais inclusivo, saudável e, principalmente, mais funcional, para que a universidade, de fato, funcione bem dentro da sua estrutura para ele?


Gilberto Carlotti Júnior: Eu não diria apenas na pós-graduação, mas na graduação também. É muito importante que todos os alunos enxerguem a universidade realmente como um fator que vai mudar a sua vida, que vai mudar a qualidade de vida da sua família e que vai dar condições para ele ser mais competitivo no mercado de trabalho. Então, é por isso que eu tenho uma grande preocupação na pós-graduação quando a diminuição do interesse do aluno. Eu concordo com você, não é só financeiro, eu diria até que o peso financeiro é menor do que esse pacote que nós precisamos oferecer para o aluno. Por exemplo, se você oferece para o aluno de pós-graduação, que daqui a dois anos vai estar no mestrado, quatro anos depois de doutorado, ele vai publicar um paper e vai ter um diploma, isso não resolve mais para esse aluno.


Ele precisa ver o que que vai mudar na sua qualidade de vida, o que que ele vai aprender a mais, não basta entrar numa linha de produção, fazer um paper, publicar o paper, porque isso hoje não é mais suficiente. O aluno quer mais, ele quer saber o que que vai aprender. Qual é a habilidade que ele vai ter ao final deste curso, quais as chances que terá ao final desse investimento de dois anos ou quatro anos? Eu tenho insistido muito na universidade, estou fazendo conselhos universitários temáticos. Estou cobrando entre aspas os diretores, os chefes de departamentos para fazermos modificações na graduação e tornar o ensino mais atrativo, mais ativo, que o aluno tenha a percepção que ele vai ganhar habilidades, que isso vai fazer diferença na sua vida.


Nós não podemos ficar distantes do mundo, do trabalho, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Nós precisamos entender a sociedade, sem sermos influenciados pela sociedade e fazer as modificações que precisamos fazer. Não podemos ficar parados, porque isso seria andar para trás. Isso me preocupa tanto na pós-graduação, quanto na graduação. Por isso temos insistido tanto em fazer essas mudanças curriculares, em fazer um ensino interdisciplinar. Se você vier da área médica hoje não pode sair da faculdade sem ter noção de Inteligência Artificial, isso porque para fazer um diagnóstico você vai precisar dessas habilidades. Quando eu fiz faculdade não era necessário, mas hoje é necessário ter outras habilidades para poder me formar. E os alunos têm essa percepção.


Nós precisamos entender esse mundo para poder fazer essas mudanças. Então, eu acho, como você acentuou na pós-graduação, mas para a graduação também. Concordo com você que a bolsa é importante, mas não é tudo o que precisamos.




Terceiro bloco


Moura Leite Netto: Professor Carlos, no bloco anterior o Víctor Vieira trouxe uma questão sobre o Hospital Universitário. A minha pergunta agora vai chegar no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Professor, a sua produção científica, temos trabalhos sobre glioblastoma, sobre outros tumores de sistema nervoso, também sobre epilepsias e são pesquisas que fazem o chamado movimento translacional: a pergunta vem do hospital, do leito do paciente e é respondida pelo laboratório. Como a USP, de fato, trabalha essa sinergia, aproveitando o potencial do ICESP em pesquisa?


Gilberto Carlotti Júnior: Eu agradeço a pergunta Moura, porque me sinto mais confortável na área de neurocirurgia do que como sendo reitor. Mas essa minha formação translacional, de trazer um problema de um paciente, levar para o laboratório, responder e voltar para o paciente, eu acho que é o caminho da Oncologia, e eu acho que é o caminho da Medicina.


Nós criamos esse ano cinco centros dentro da universidade ligados à reitoria. Um desses centros é um Centro de Medicina de Precisão em Oncologia, no ICESP, porque quando nós olhamos a Medicina como um todo, a Oncologia vai ser uma das áreas para os próximos 10, para os próximos 20 anos que precisa ser desenvolvida. Então, nós estamos investindo nesse tipo de colaboração, nesse tipo de estudo que está envolvendo pesquisadores de Ribeirão Preto e de São Paulo para formar um Centro Translacional de Oncologia voltado para a Medicina de Precisão. Então, eu acho que isso é uma tendência.


E um desses institutos internacionais que eu disse, o ICGEB (International Centre for Genetic Engineering and Biotechnology), vai ser alocado também no ICESP, e vai trabalhar nessa área de Oncologia voltado para a Medicina de Precisão. Eu acho que é uma visão estratégica da universidade. Nos outros centros, nós criamos dois centros de agricultura, criamos um centro de estudos da Amazônia e também um centro observatório de instituições brasileiras, em que o professor Lewandowski e a professora Maria Arminda estão coordenando. A ideia é criar centros interunidades, interdepartamentos para resolver grandes problemas da sociedade.


A Oncologia é uma área que eu acredito que nós vamos precisar desenvolver muito e é uma oportunidade também porque estamos passando por um tratamento celular de imunobiológicos. Vocês viram um exemplo que a Universidade de São Paulo está fazendo com o CAR-T Cell, tratamento para leucemias e linfomas. É um tratamento pioneiro no Brasil, que já tem mais de 15 pacientes tratados com muito bons resultados. Se você for comprar uma metodologia internacional, vai pagar um ou dois milhões de dólares. E fazendo isso aqui no Brasil esse tratamento vai sair em torno de 100 mil reais. Então, isso é uma colaboração muito grande que a universidade está fazendo para a população brasileira.





Quarto bloco


Moura Leite Netto: Nós podemos ver, portanto, que uma universidade do tamanho da USP pode estar entre as 100 melhores do mundo e ao mesmo tempo ter muitos problemas pela complexidade do seu tamanho. E o aluno pesquisador, o professor estão nesse cenário em que chegam novas demandas desse mundo conectado que estamos vivendo e com tantas fake news. E essa demanda também é dialogar mais com a sociedade. Como você vê essa possibilidade de dialogar com a sociedade e encontrar forças e tempo para investir nisso? Há uma iniciativa - só encerrando a pergunta - que é da RedeComCiência, uma rede brasileira de jornalistas e divulgadores de ciência, que tem uma disciplina com a faculdade com a pós-graduação de Odonto da USP, é que é de popularização da ciência, que ensina ao profissional desde como ser um porta-voz com a imprensa, como também agir nas mídias sociais. Há outras possibilidades de iniciativas como essa?


Gilberto Carlotti Júnior: Moura, a universidade é complexa. Eu tinha medo que você fizesse uma pergunta do tipo: eleja uma prioridade da sua gestão, porque é muita coisa para fazer. É questão de pessoal, questão de financiamento, de formação, ensino, pesquisa, mas eu acredito que o nosso pessoal esteja muito motivado para esse projeto de uma universidade pujante. Posso te dar um exemplo agora, nós tivemos hoje o edital da Fapesp que a USP captou 46% do total de dinheiro investido no edital de grandes equipamentos. Então, isso mostra que os nossos pesquisadores, mesmo com todos os problemas que possamos ter, estão motivados, estão fazendo com seriedade o trabalho que temos feito.


Estamos fazendo muitas coisas importantes dentro da universidade. Por exemplo, recentemente inauguramos um conversor de etanol para hidrogênio, vamos utilizar esse hidrogênio para fazer isso estudos em carros, em ônibus dentro do campus, nós temos hoje na universidade a terapia CAR-T Cells, temos embriões modificados para fazer os estudos iniciais para o xenotransplante. Então, tudo isso é muito vivo dentro da universidade.


Eu sei que existem problemas, eu sei que eu preciso me ater a várias questões de custo, de pessoal, mas a riqueza da universidade é muito grande e é isso que mantém a Universidade de São Paulo, é isso que fez a USP ser considerada entre as 100 primeiras.


Dentro desse contexto todo, a busca por comunicar com a sociedade é muito grande. Nós não vamos conseguir manter o financiamento na universidade se a sociedade chegar à conclusão que não vale a pena manter a universidade pública. Eu preciso que a sociedade entenda que vale a pena manter a USP. Isso é economicamente bom para a sociedade, desenvolve a sociedade, torna a sociedade, torna o estado de São Paulo melhor com a USP, com a Unesp, com a Unicamp, do que sem as nossas universidades.


Acho que esse é o grande desafio. Agora, a comunicação é uma preocupação crescente. Quando eu era pró-reitor de pós-graduação, fizemos aqui, na TV Cultura, uma divulgação de vídeos de alunos. Então, isso eu acho que é uma das iniciativas que nós podemos aumentar ainda mais.




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