A composição das redações jornalísticas no Brasil reflete a persistente desigualdade racial e de gênero. Esse é o principal resultado de estudo produzido pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No trabalho, 84% dos jornalistas que assinam os textos nos jornais O Globo, Folha de São Paulo e Estado de São Paulo se declaram brancos, ao mesmo tempo em que o percentual de brancos entre os brasileiros é de 43%, segundo o IBGE. Além disso, 60% dos autores nos três veículos de comunicação são homens.
Para discutir esses achados, convidamos para o SENSU TALKS #32 o coordenador do GEMAA, João Feres Jr. Feres, que também coordena o Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) da UERJ. Sua formação percorre as Ciências Sociais, na Unicamp, e mestrado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas, assim como doutorado em Ciência Política pela Universidade da Cidade Nova Iorque. No início da entrevista, o pesquisador relembra os primeiros passos das políticas de acesso ao ensino superior no Brasil, tendo a UERJ como referência: “Na UERJ e UNEB, em 2003, começaram a ser aplicadas as primeiras turmas com critérios de ação afirmativa”, relembra.
Durante a entrevista, o pesquisador também ressalta a importância dos programas e políticas de diversidade racial e de gênero na imprensa, uma vez que ela é fundamental para garantir a boa informação. “As pessoas comuns não têm tempo ou recursos para correr atrás das próprias informações, mesmo as coisas que acontecem na própria cidade”, informa.
E como é possível aumentar a diversidade nas redações dos jornais no país? Em nível micro, ou seja, no contexto das redações, Feres defende a importância de programas de treinamento e vagas afirmativas, além de formação antirracista para os jornalistas brasileiros. Entretanto, essas ações não põem um fim, definitivo, à constante desigualdade no cenário brasileiro, dentro e fora dos jornais.
“A maioria da população brasileira é não branca. 57% da população brasileira é feita de pardos e pretos. Então, quando você tem uma mídia que defende uma posição que na prática coloca pardos e pretos em uma condição social de exclusão, eles podem até ter políticas de inclusão na redação, mas não são suficientes”, ressalta o cientista político.
Confira o episódio:
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