SENSU CAST 38 – Comunicação e Câncer de Cabeça e Pescoço
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Atualizado: há 1 minuto
O câncer de cabeça e pescoço, embora acometa cerca de 40 mil brasileiros anualmente, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), é um tema com menor atenção por parte da comunicação quando comparado com outros cânceres como mama e próstata. Com incidência crescente e forte associação com tabagismo, consumo de álcool em excesso e infecção pelo HPV, esse tipo de câncer (que se refere a mais de 30 localidades, entre elas a boca, língua, laringe) requer estratégias eficazes de conscientização, especialmente durante a campanha Julho Verde.

Esse é o tema do SENSU CAST #38, o podcast da SENSU Consultoria de Comunicação sobre jornalismo e comunicação corporativa nas áreas de saúde, ciência e educação, apresentado por Moura Leite Netto, jornalista e doutor em Ciências. Os convidados são Dorival de Carlucci Jr, cirurgião de cabeça e pescoço, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) e Milena Perez Mak, oncologista clínica da Oncologia D´Or e Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP).
JULHO VERDE
Este é um episódio especial de Julho Verde, mês de conscientização sobre câncer de cabeça e pescoço e a comunicação de qualidade é fundamental para que as mensagens corretas cheguem à população. A cor verde foi escolhida simbolizando esperança e tem como marco o dia 27 de julho, data instituída em 2014 pela Sociedade Americana de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, em Nova Iorque. No Brasil, o mês ganhou adesão e políticas públicas que buscam ampliar o acesso à informação e estimular a prevenção.
O tema da campanha de Julho Verde de 2025 do GBCP foi "Cultive prevenção, colha vida", metáfora de planta escolhida "para chamar a atenção que a prevenção tem que ser diária, tem que ter um cuidado intenso com a nossa saúde, para garantir que não tenha problemas futuros.”, ressalta Milena Perez Mak.
Ainda com relação ao Julho Verde, o GBCP programou campanhas para ter interação com toda a população e profissionais de saúde, com lives, palestras, momentos educativos e bastante informação sendo divulgadas nas redes sociais.
Fatores de risco e prevenção: a base para evitar o câncer de cabeça e pescoço
O câncer de cabeça e pescoço reúne um conjunto de tumores que acometem regiões como boca, garganta e laringe, onde ficam as cordas vocais. Estima-se que, em 2025, o Brasil registre cerca de 40 mil novos casos dessa doença, sendo o câncer de cavidade oral o mais frequente, seguido pelo câncer de laringe. Juntos, os tumores dessas regiões representam o quarto tipo de câncer mais comum entre homens, atrás apenas de próstata, pulmão e colorretal.
Diferente de muitas outras neoplasias, os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço são bem conhecidos. Eles incluem o tabagismo, englobando o cigarro tradicional, o eletrônico e o narguilé; o consumo excessivo de bebidas alcoólicas; a infecção pelo HPV, especialmente associada ao carcinoma de orofaringe; além de hábitos nocivos como a má higiene bucal, a exposição ao sol sem proteção e a ausência do uso de preservativos nas relações sexuais.
Segundo Dorival de Carlucci Jr, da ABCCP, quando o assunto é câncer de cabeça e pescoço, a vacinação contra o HPV é destaque, principalmente para evitar o aumento dos casos de carcinoma de orofaringe, que têm atingido uma população mais jovem, entre 40 e 50 anos.
Sintomas e sinais de alerta: o que a população deve observar
Um dos grandes desafios é o cenário atual de predominância de diagnóstico tardio. Cerca de 80% dos casos são descobertos em fase avançada, quando o tratamento é mais difícil e as chances de cura são menores. Por isso, ficar atento aos sintomas iniciais é fundamental. Dorival alerta que na boca, o câncer pode começar como uma lesão parecida com uma afta, que é uma condição comum e muitas vezes desvalorizada.
Ele explica que se essa lesão não cicatriza e começa a apresentar dor, mau cheiro ou resulta em dificuldade para a pessoa se alimentar, pode indicar um tumor avançado, sendo necessário o encaminhamento ao médico. “E se pudesse ter sido tratada inicialmente, muitas vezes uma cirurgia muito simples, com anestesia local, poderia ter resolvido o problema. A rouquidão persistente por mais de duas semanas é outro sinal importante, sobretudo para o câncer de laringe. Na garganta, sintomas como mau hálito e dificuldade para engolir também devem ser observados. O pior mito, segundo Carlucci Jr. é achar que ‘não é nada’. Se o sintoma persiste por 14 dias, o paciente deve procurar um otorrinolaringologista”, reforça.
Milena Perez Mak complementa ressaltando que “a população que tem o hábito de ingerir bebidas alcoólicas e fumar deve ficar atenta, além de ser muito importante sempre analisar se tem alguma lesão na língua, se a rouquidão aumentou (para quem já tem a voz mais rouca), para ir atrás de tratamento. A população mais jovem tem outro tipo de tumor, que é o carcinoma da orofaringe, que é relacionado ao HPV e muitas vezes, o primeiro sinal que essa pessoa vai ter é o inchaço na região do pescoço, então aparece um caroço que não tinha antes e se esse caroço persistir por mais de 2 semanas ou aumentar, é necessário ir ao médico para analisar”, orienta.
O papel da comunicação e da conscientização na prevenção e no diagnóstico precoce
Para Carlucci Jr, a comunicação é essencial para levar informação correta à população: “Muitos profissionais de saúde ainda não sabem identificar corretamente uma lesão inicial, como uma afta. É obrigatório que dentistas e médicos examinem a boca dos pacientes com atenção, usando até mesmo a lanterna do celular. A maioria dos diagnósticos começa com o dentista e é fundamental informar a população por meio das mídias sociais, podcasts, videocasts e por influenciadores e jornalistas que têm grande engajamento”, comenta.
O cirurgião também lembra que o câncer de boca é o quinto tipo mais frequente entre homens no Brasil e que a aprovação da lei que institui o Julho Verde representa um avanço importante para políticas públicas: “Mas precisamos de mais políticas de não tabagismo, como o cumprimento da proibição do vape, que é ainda mais perigoso que o cigarro comum, além de ampliar o acesso à vacinação contra o HPV e o incentivo à higiene oral”.
Desafios no tratamento e suporte multidisciplinar
Milena destaca que o câncer de cabeça e pescoço exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo oncologistas clínicos, cirurgiões, radio-oncologistas, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, odontologistas, entre outros, para o melhor tratamento e reabilitação dos pacientes: "muitas vezes, nós precisamos fazer intervenções que acabam gerando algumas sequelas, como traqueostomia e alteração na fala e a temos que entender que isso faz parte do tratamento. É fundamental saber acolher essas pessoas, para elas terem um dia a dia mais tranquilo, porque realmente não é fácil. E esse temor, justamente da aceitação das pessoas quanto ao pós-tratamento, é algo que muitas vezes dificulta a tomada de decisão por parte do paciente. O paciente tem muito receio em fazer uma cirurgia justamente por ter um risco de ter esse tipo de sequela e não ter a mesma aceitação na sociedade. Trazer à luz informações sobre o câncer de cabeça e pescoço, o que é essa doença, formas de tratamento e conviver com as pessoas sobreviventes dessa doença é importante para todos”, afirma.
Ela ressalta ainda a importância da educação continuada para os profissionais de saúde, por meio de simpósios, congressos e webinares promovidos pelo GBCP, para garantir que os sinais sejam reconhecidos precocemente e que o atendimento seja adequado. “É muito válido também a troca de experiências entre profissionais de diferentes regiões do Brasil, pois o país é grande e as práticas podem variar bastante”, acrescenta Milena.
A jornada do paciente: prevenção, tratamento e vida pós-câncer
O câncer de cabeça e pescoço, explica Milena Mak, é a neoplasia que mais precisa de uma intervenção multidisciplinar. É importante, segundo ela, que o paciente e o familiar entendam a importância e relevância de todos esses profissionais. Além disso, garantir que as pessoas tenham acesso a todos esses profissionais, o que muitas vezes é difícil, por causa da disponibilidade e distância física. “A reabilitação é uma fase fundamental para o paciente recuperar a funcionalidade e a qualidade de vida. O acompanhamento por profissionais como fonoaudiólogos é essencial, embora a oferta desses especialistas ainda seja escassa em muitas regiões”, comenta Milena.
Ela aconselha que a população busque por fontes confiáveis e evite informações superficiais ou incorretas na internet. “É importante conversar com profissionais de saúde, com pessoas que já passaram por situações parecidas e se apoiar em fontes confiáveis, pois ferramentas como o Google e o ChatGPT podem trazer dados que não refletem a realidade individual do paciente. O importante é levar todas as dúvidas e informações para o profissional da saúde”, orienta a presidente do GBCP.
Case de sucesso: Presidente Luís Inácio Lula da Silva
O presidente Lula se recuperou de um câncer na laringe sem sequelas. Sendo um caso de sucesso pela rapidez no diagnóstico e no tratamento, com preservação da voz. “O case de sucesso dele vai diretamente ao que a gente está buscando com a informação. O dele foi um sucesso porque foi diagnosticado rápido, foi tratado rápido, e tratado com as melhores e mais atuais ferramentas terapêuticas. Esse seria o padrão-ouro para todos", diz Carlucci Jr.
Por fim, os participantes reforçam que é necessário que tanto a população quanto os profissionais da saúde tenham acesso às informações referentes ao câncer de cabeça e pescoço, não só no mês de julho, mas em todos os meses. O diagnóstico precoce salva vidas.
O SENSU CAST está nas principais plataformas de áudio e é uma produção da SENSU Consultoria de Comunicação, com parceria do Estúdio Banca Podcast. Em cada episódio, uma nova conversa para quem acredita que a comunicação pode transformar a saúde, a ciência e a educação.
Ouça e aproveite para compartilhar a sua opinião e sugerir temas para os próximos episódios do SENSU CAST.
Ficha técnica
Produção: SENSU Consultoria de Comunicação e Banca de Conteúdo
Roteiro e apresentação: Moura Leite Netto
Edição: J.Benê
Direção: Luciana Oncken
Nós da SENSU Consultoria de Comunicação, tendo como parceiro o Estúdio Banca Podcast, produzimos podcasts e videocasts de diferentes temas das áreas de saúde, ciência e educação. Se interessou em produzir o seu podcast conosco? Envie uma mensagem para contato@sensucomunicacao.com.br. E não se esqueça de ouvir os episódios anteriores e seguir nossos perfis. O SENSU CAST está nas principais plataformas de podcast, todos os meses com um episódio novo.
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