O episódio 20 do SENSU CAST, podcast de comunicação de saúde, ciência e educação apresentado por Moura Leite Netto, jornalista e diretor da SENSU Consultoria de Comunicação, recebe Fabiana Gomes de Campos, médica paliativista do Departamento de Cuidados Paliativos do A.C.Camargo Cancer Center. O tema deste episódio é Comunicação do Império da Dor.
A estimativa do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, é que mais de 500 mil pessoas morreram, nas duas últimas décadas, de overdose de algum tipo de opioide. Dentre eles está o Oxycontin. O Oxycontin, também chamado oxicodona, é um medicamento opioide analgésico, mais potente que a morfina.
Fabricado pela Purdue Pharma, da bilionária família Sackler, o medicamento está no centro das discussões sobre o uso descontrolado de opioides. A farmacêutica Purdue é acusada por milhares de pessoas, incluindo médicos, de ser uma das principais responsáveis pela onda de dependência de opióides que atingiu os Estados Unidos nas últimas décadas. A empresa é acusada de fazer um marketing enganoso da medicação Oxycontin, afirmando que ele seria seguro, quando, na verdade, tinha conhecimento sobre sua alta capacidade de causar dependência nos pacientes.
O marketing da Purdue Pharma se apoiou em uma informação trazida na revista científica The New England Journal of Medicine. A informação propagada era que o risco de dependência era de apenas 1%. No entanto, não era um artigo baseado em um estudo clínico, mas sim em uma carta enviada ao editor da revista. Nesta publicação, ocorrida em 1980, a afirmação foi que de 11.882 pacientes que faziam uso de opioides (incluindo a oxicodona), apenas quatro desenvolveram quadro documentado de dependência.
Com o marketing agressivo, a Purdue Pharma usufruiu da dor de milhares de pessoas e investiu nos médicos em sua estratégia de vendas. Sendo prescrito de forma indiscriminada, o uso de opioides tornou-se uma epidemia.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dor lombar, que é a principal causa de incapacidade em todo o mundo, atinge 1 em cada 13 pessoas no mundo, o que equivale a 619 milhões de pessoas. É um aumento de quase 60% em relação a 1990. Isso sem falar em outras inúmeras causas de dores, como a decorrente de câncer, por exemplo.
Em todo o mundo, em 2019, cerca de 600 mil mortes foram atribuíveis ao consumo de drogas. Perto de 80% destas mortes estão relacionadas com opiáceos, sendo cerca de 25% dessas mortes causadas diretamente por overdose.
Reportagem veiculada no Jornal Hoje, da TV Globo, em 4 de dezembro de 2023, conta que o Oxycontin surgiu nos Estados Unidos em 1990 com a promessa de ser uma solução para a dor sem efeitos colaterais sérios. Mas a promessa tinha um preço, que logo se revelou nos corredores dos hospitais e clínicas de reabilitação em todo o país.
Vieram os primeiros processos judiciais contra a farmacêutica. A família Sackler decidiu, em 2019, entrar com um pedido de falência para frear esses processos judiciais. Isso colocou automaticamente em pausa os processos judiciais e começou a ser discutido um acordo.
Este acordo envolveu 24 estados norte-americanos, e envolveu também as famílias que perderam entes queridos por overdose. Neste acordo, a farmacêutica ofereceu como reparação o valor de 6 bilhões de dólares e, com isso, se livrar de 2 .600 processos judiciais que enfrentava até o momento. Como contrapartida, a Purdue Pharma não poderia mais ser processada
No entanto, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos argumenta que nenhum acordo pode impedir que processos judiciais aconteçam. E isso levou o caso para a Suprema Corte norte-americana.
No campo da cultura, esta história é contada no livro “O Império da Dor: A ascensão e queda de uma das mais poderosas famílias americanas e seu criminoso império farmacêutico”. O livro é um best-seller do The New York Times. Escrito pelo premiado repórter Patrick Radden Keefe, da revista The New Yorker, o livro conta como o medicamento gerou uma receita de cerca de 35 bilhões de dólares, mas desencadeou uma crise de saúde pública na qual centenas de milhares de pessoas morreram. Esta obra inspirou a série da Netflix, que também recebeu no Brasil o título de Império da Dor, disponível em seis episódios.
Neste episódio do SENSU CAST, falamos sobre como o Império da Dor se instaurou nos Estados Unidos e se espalhou para o mundo; quais são os riscos e benefícios do uso de analgésicos no controle da dor; em que medida a crise dos opioides afeta a imagem da indústria farmacêutica; qual é a prescrição – baseada em evidência – para opioides e quais mensagens o Império da Dor deixa para a comunidade médica e científica, pacientes, familiares, gestores de saúde e comunicadores.
Referências
- Império da dor: a ascensão e queda de uma das mais poderosas famílias americanas e seu criminoso império farmacêutico / Patrick Radden Keefe ; tradução Bruno Casotti, Natalie Gerhardt. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2023.
- Império da Dor - série na Netflix - https://www.netflix.com/br/title/81095069
- Organização Mundial da Saúde - https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/opioid-overdose - Disponível em 29dez2023.
FICHA TÉCNICA
Produção: SENSU Consultoria de Comunicação e Banca de Conteúdo
Roteiro e apresentação: Moura Leite Netto
Edição: J.Benê
Direção: Luciana Oncken
Este podcast é uma produção da SENSU Consultoria de Comunicação e Estúdio Banca de Conteúdo. Apoio: Banca de Conteúdo.