Tantas coisas já aconteceram que mal parece que faz menos de duas semanas que, em 11 de março, a Organização Mundial de Saúde anunciou que havíamos atingido o status de pandemia. Naquele momento a entidade se baseava na amplitude global dos casos de Covid-19. Após o alerta, as curvas de notificações de casos e mortes se elevaram exponencialmente. Até às 15h46 de 22 de março, os números estavam em 292 mil casos e 12 mil mortes. A doença já havia se espalhado para 187 países. Os dados podem ser acompanhados em tempo real.

Nos últimos dias, os impactos na rotina dos brasileiros ganharam amplitude conforme a doença avançava. Congressos, shows, competições esportivas, aulas e demais situações que causam aglomerações foram devidamente canceladas por tempo indeterminado. Apesar destas medidas necessárias, eram inevitáveis as primeiras mortes, com maior ênfase no epicentro, a cidade de São Paulo. Na mais recente coletiva do Ministério da Saúde, dia 22, havia 25 mortes confirmadas no país.
Em meio a esse turbilhão, os profissionais de Comunicação estavam preparados para noticiar estes fatos? Pensando em jornalismo de saúde, que é o foco deste texto, vemos que tanto os profissionais especializados quanto aqueles que trabalham com editorias diversas e, em razão da necessidade, foram deslocados para a cobertura do tema, não estavam totalmente prontos. Aprenderemos todos, fazendo.
Acreditamos que o mais importante neste momento, que não sabemos de quanto tempo será, é que nos apropriemos de nosso lugar de fala e sejamos profissionais que transmitam serenidade para todos os públicos com os quais nos comunicamos e que estejamos sempre dispostos a contrapor as fake news por meio de informação qualificada, adaptada e com mensagens-chave claras.
Os comunicadores que estão em home office, mesmo que não trabalhando para um determinado veículo ou assessoria de imprensa, por exemplo, não devem esmorecer. Se juntem na corrente de disseminação de conteúdo baseado em evidência científica. Cada um pode contribuir com ilustrações, animações, postagens em seus perfis nas mídias sociais ou, simplesmente, compartilhando notícias referenciadas.
Aos jornalistas que precisam estar em campo, que priorizem as entrevistas feitas de forma não presencial, como corretamente tem sido a tônica na cobertura jornalística das emissoras de TV aberta e a cabo no Brasil. É admirável a preocupação demonstrada por profissionais de não serem vetores.
E você, que trabalha com assessoria de Comunicação na área de saúde, observe que provavelmente algum paralelo poderá ser traçado entre o negócio de seu cliente e o novo coronavírus. Desta forma, será possível manter sua rotina de trabalho, gerar resultados e trazer alguma nova informação relevante para a sociedade. Caso esse paralelo não seja possível, dirima a potencial ansiedade e pressão com argumentos que evidenciem a total necessidade de a agenda setting estar direcionada ao coronavírus.
Uma alternativa, por sua vez, pode ser a busca por veículos que necessitem de uma maior diversidade de temas em saúde, como portais e revistas mensais. Aborde-os, explicando que entendem o fato de o foco ser a pandemia, mas que você gostaria que ele avaliasse a sua sugestão. Mas é válido fazer isso restritamente se a sua sugestão de pauta for datada e de alta relevância para a sociedade. Caso seja notícia fria, aguarde.
Um amplo aprendizado nos aguarda. Devemos estar a postos para prevenir e combater a desinformação. Exemplos não faltaram em tão poucos dias. A cloroquina (medicamento que não tem estudo clínico que valide o seu uso contra Covid-19) foi alvo de uma busca desenfreada das pessoas e não está mais disponível em muitas farmácias, impactando o tratamento de pacientes que de fato precisam deste medicamento para combater outras doenças como lúpus (para os casos de malária a distribuição é feita diretamente pelo Ministério da Saúde). Tivemos também a aparição de químico autodidata, inúmeros áudios e vídeos inconsequentes e anúncios desencontrados. E muito mais está por vir.
A boa notícia é que temos também uma legião de profissionais dispostos a amenizar os impactos da pandemia. Precisamos reforçar a todos de nosso convívio que se apoiem mais na informação que é transmitida pelos veículos da mídia tradicional e em produtores de conteúdo que são de fato influenciadores de conteúdo com dados referenciados. E que essa informação de qualidade chegue a todos, desde aos que têm acesso a todos os meios de comunicação, como também aos que estão em situação de vulnerabilidade social.
Sejamos disseminadores de conhecimento!
Moura Leite Netto - Jornalista e sócio da SENSU
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